quarta-feira, 25 de julho de 2012

Banco de dados ajudará a corrigir problemas da visão de crianças


Banco de dados único será capaz de gerar um mapa das crianças com algum problema de visão, permitindo que elas sejam assistidas continuamente e tenham seu problema corrigido

Vem da parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais com a Fundação Hospital de Olhos um dos destaques do 7º Technology and Medical Sciences International (TMSI), evento de relevância mundial que, pela primeira vez, será sediado no Brasil, de segunda a quarta-feira, no câmpus Pampulha da UFMG, em associação com o 11ª Irlen Internacional Conference, que vai de quarta a sexta-feira. Especialistas de diversas áreas e países vão conhecer e poder colaborar com o projeto Bom Começo, que vai criar um banco de dados único com informações relevantes para o desenvolvimento normal da criança, monitorar e acompanhar o amadurecimento sensorial, cognitivo, físico e social no ciclo escolar e traçar curvas normais do desenvolvimento das habilidades sensoriais, medidas biométricas e de desempenho na escola, para, a partir daí, poder assistir precocemente as crianças com problemas.

O professor Marcos Pinotti e o oftalmologista Ricardo Guimarães vão apresentar tecnologia para rastreamento de problemas visuais durante evento internacional que começa hoje em BH

O sistema de gestão da saúde ocular e auditiva durante a infância, desenvolvido pelo Laboratório de Pesquisa Aplicada à Neurovisão (Lapan), fruto da união do Laboratório de Bioengenharia (Labbio) do Departamento de Engenharia Mecânica da UFMG com o Hospital de Olhos, já está sendo implantado no Canadá. Em Minas Gerais, a partir de um financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, será realizado um teste-piloto em Nova Lima, onde professores já estão sendo preparados. A previsão é de que os testes sejam feitos ainda no segundo semestre. Belo Horizonte também já tem mais de 800 professores treinados, que aguardam apenas a fase de licenciamento da tecnologia. Dependendo do resultado do piloto, será estudada a ampliação para outros municípios.

O projeto Bom Começo é baseado em uma tecnologia de rastreamento. Segundo Marcos Pinotti, coordenador do Lapan e do Labbio, com a metodologia, será possível identificar uma série de problemas visuais em grandes populações, para, a partir daí, serem feitos exames mais específicos. "Não faremos diagnóstico, que é algo mais amplo e depende de uma série de procedimentos. A principal vantagem do rastreamento é ser um procedimento rápido, possível de ser realizado com várias crianças, que, muitas vezes, têm uma dificuldade para enxergar e sequer sabem disso. É a partir da identificação do problema no rastreamento que ele será investigado". O importante é que o sistema será capaz de gerar, para a escola e o Executivo, um mapa das crianças com algum problema de visão ou audição, permitindo que ela seja assistida continuamente e tenha seu problema corrigido.

O procedimento é simples. A criança olha dentro de uma máquina digital, que tem como vantagem jogar as imagens de forma aleatória, impedindo, por exemplo, que ela conte a sequência para a próxima da fila. Ligado à internet, o aparelho envia o resultado diretamente para um banco de dados. "A grande vantagem é que ele já gera a avaliação com a idade da criança. Mas a beleza desse projeto não é o equipamento em si, e sim como ele funciona integrado", defende o especialista. Todo esse processo será feito nas escolas, que terão seu aparelho próprio. Para isso, professores e diretores estão sendo treinados para entender melhor como os problemas de visão podem afetar no aprendizado. Uma vez preparados para identificar um possível problema, aprenderão a operar o equipamento.

Tratamento precoce 
Cerca de 30% das crianças brasileiras em idade escolar apresentam problemas oculares de refração que interferem em seu desempenho diário e na aprendizagem, segundo dados epidemiológicos do Ministério da Saúde. É nesse cenário que o Bom Começo vai atuar. Segundo o oftalmologista Ricardo Guimarães, diretor do Hospital de Olhos, o rastreamento é de crucial importância para a saúde ocular das crianças, uma vez que a infância é o momento ideal para lidar com uma série desses problemas. "Hoje, as pessoas se tratam quando dá. Quando falamos em um sistema de gestão da saúde, estamos mirando em uma forma de, por meio de exames sistemáticos, identificar aqueles que saem da curva de normalidade no desenvolvimento."

O Bom Começo se concentra nas questões visuais e auditivas, mas os sistemas de gestão da saúde podem ser bem mais amplos, dependendo do que os gestores têm interesse em estudar. A identificação de uma criança obesa, por exemplo, exigirá um plano de intervenção, que poderá envolver cuidados médicos e informações nutricionais. Mas se não foi só uma e sim 20 crianças na mesma escola ou região, a leitura do dado mostra que se trata de um problema local. "É importante incorporar os conceitos de grupo e região para que a intervenção seja de boa qualidade. Nesse exemplo, quem sabe não é a cantina, que está servindo algo errado? Esses sistemas geram gráficos com informações importantes para definir a intervenção a ser feita."

Segundo o especialista, a ideia é incorporar algo que já está no mercado, uma inteligência aplicada para a gestão de dados com racionalidade. "Gestores de saúde e educação terão um alerta para intervenções tempestivas e oportunas, para aumentar a eficiência da ação, diminuir gastos e prevenir doenças que custarão muito no futuro. Uma vez, o ministro da Saúde disse que a obesidade é uma doença infantil com manifestação no adulto. Concordo com ele. Grande parte das doenças oculares do adulto também são doenças infantis com manifestação no adulto. Com esse modelo, poderemos diminuir a incidência de miopia, de ambliopia (cegueira) e de várias outras doenças para as quais a ação tardia é cara e ineficiente."

Com o rastreamento em funcionamento, será possível padronizar a realização dos exames de triagem e promover a identificação, o monitoramento e a intervenção precoce nos casos de déficit relacionado à aprendizagem. Futuramente, com o auxílio de novas tecnologias, será realidade o banco de dados integrado a outras informações médicas, como, por exemplo, vacinação, peso, altura. Com isso, será possível acompanhar o desenvolvimento humano por toda a vida, além de viabilizar relatórios de análises e estudos epidemiológicos que poderão, por sua vez, auxiliar na gestão das políticas municipais e estaduais.

Síndrome de Irlen
Sensibilidade aumentada à luz, distorções visuais durante a leitura, restrição do campo visual periférico, dores de cabeça, dificuldade de adaptação a contrastes e na manutenção da atenção são as principais manifestações da Síndrome de Irlen, tema do evento mundial que será realizado em Belo Horizonte esta semana. Pela primeira vez no Brasil, o evento terá a presença de especialistas do Japão, Estados Unidos e Suíça, além da pesquisadora Helen Irlen, responsável pelos primeiros estudos sobre o distúrbio que leva seu nome. O diagnóstico da síndrome é diferenciado: não pode ser ser feito por meio de exames oftalmológicos de rotina, nem por testes padronizados para verificação de dificuldades de aprendizagem. Na oportunidade, o Lapan apresentará quatro novas versões que desenvolveu para o Eyetracking, aparelho que faz o rastreamento do globo ocular no momento da leitura e é utilizado para diagnosticar a Síndrome de Irlen. A ideia é ouvir dos especialistas no assunto como cada uma dessas versões pode ajudar na leitura do movimento dos olhos.

Fonte: Estado de Minas

Até breve com mais um Tecnologia em Foco
Sérgio Rodrigo de Abreu

Nenhum comentário:

Postar um comentário